quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cerveja em queda livre

Em algum lugar do espaço-tempo, perto dali, um professor propôs um trabalho para os seus alunos... Tá, fui eu de novo...

Pedi pra que eles encontrassem por aí vídeos cujo conteúdo tivesse alguma relação com a Física, e que o analisassem de acordo com as leis da nossa querida disciplina. Um dos trabalhos mais legais acabou sendo o da nova propaganda da Skol - aquela que mostra os caras se atirando do avião atrás da caixa de cerveja. Veja:
Os caras se jogam do avião e eu fiz a meus queridos aluninhos (que só poderão beber depois dos 18 anos) algumas perguntas:

- Que forças agem nos caras antes e depois de se atirarem do avião?
- Como eles fizeram pra alcançar a caixa?
- Existe algum "erro físico" cometido pelo comercial?

Antes de se atirarem do avião, podemos considerar que agem sobre os caras as forças peso e normal (aquela que sempre faz noventa graus com a superfície de contato). Pode-se dizer que os caras estão em equilíbrio (pelo menos em relação ao avião)? Sim.

Depois que se jogam, deixa de agir a força normal e entra a resistência do ar na jogada, que pode muito bem ser analisada como uma força que atua no sentido contrário ao movimento ou tendência dele. Neste caso, fica interessante, pois, quanto pode valer a força de resistência do ar? Pois é, dizem os físicos que ela depende, grosso modo, do formato do corpo e de sua velocidade. Aliás, ela aumenta conforme a velocidade. É claro que existem alguns formatos mais aerodinâmicos, que "furam o ar" com mais facilidade do que outros. Aí você pode pensar no formato dos carros atuais, dos carros de corrida, dos aviões etc. Todos feitos pra "furar" bem o ar.

Reparou em como os "cervejeiros mergulhadores" fazem pra alcançar o santo líquido dourado? Adquirem um formato parecido com a frente de um carro de corrida, ou o bico de um avião, ficando, assim, mais "aeordinâmicos".

Legal também perceber que, depois disso, o vídeo nos dá a entender que a cerveja e os caras caem com velocidade constante, ou seja, ficam em equilíbrio. O que isso significa? Que as forças que agem sobre eles todos se anulam, o que implica que a resistência do ar e o peso têm o mesmo valor. Lembra que a força de resistência do ar cresce com a velocidade? Pois é...

Dizem os cálculos da Física que a velocidade limite de queda de um paraquedista (antes de abrir o paraquedas) é de cerca de 200 km/h. Legal, né?

Meus alunos me disseram que nunca mais vão ver comerciais do mesmo jeito... Viva a Física!

Beijo

P.S.: se for dirigir ou estudar Física não beba!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A propaganda é a alma (ou a desgraça) do negócio chamado Física

Se tem uma coisa que me deixa puto é ver alguma coisa atrapalhando a Educação das nossas crianças e jovens. Não é tarefa fácil trabalhar com Educação. Trata-se de um processo longo e complexo que envolve diversos fatores. Não é meu objetivo agora ficar discutindo todos os obstáculos que podem se interpor entre meus alunos e o conhecimento. Vou me ater a apenas um deles: a mídia.

Ano passado bolei um projeto que chamei de “Física na Mídia”, onde meus alunos poderiam pesquisar sobre qualquer assunto que tenha sido tratado pela mídia que tivesse alguma relação com a Física e discuti-lo com a sala. Nessa, tivemos desde a análise de um chute do Roberto Carlos contra a França em 97, até a possível descoberta do bóson de Higgs (possível razão para a existência da massa das coisas). Foi muito legal!

Só que nem toda a Física (ou ciência) que “sai na mídia” é tratada de forma correta. Me lembro de um programa do Fantástico (acho que foi em 2005 ou 2006) que foi falar sobre a molécula de água e colocou em tela inteira, no horário nobre do domingo, uma fórmula estrutural representando dois átomos de oxigênio ligados a um de hidrogênio! Aí você se lembra da boa e velha H2O e fica em dúvida se foi seu professor de Química ou a Globo quem errou. Fiquei indignado na época e comentei com os meus alunos: “Quantas pessoas que assistiram aquilo teriam condições de analisar se estava certo ou errado?”.

Esse ano vou trabalhar com eles a “Física na Mídia – versão propaganda”. É muito comum as peças publicitárias recorrerem a conceitos científicos para passar a sua mensagem. Vejamos um exemplo:
Imagine toda a energia da sua corrida inteirinha pra você

Aqui os caras usaram a ideia da restituição energética depois de uma colisão entre o solo e o sistema de amortecimento do tênis de forma correta e muito interessante. Trabalharam direitinho o conceito de energia. Tudo bem, sem muitos detalhes sobre a colisão, se é parcialmente elástica, por exemplo, mas tudo bem. Os caras estão só fazendo uma propaganda. Mas não é por isso que precisam passar a ideia errada na cara dura!

Veja essa:

Um dos erros mais comuns dos estudantes (e das pessoas de uma forma geral) é confundir os conceitos de força e energia. Este anúncio é um claro exemplo disso. Veja como é fácil: força não se tem, força se faz. Pronto! Pra falar em força você precisa ter sempre dois corpos envolvidos, um pra fazer e outro pra receber a força (é claro que quem recebe também faz – ação e reação! – mas isso já é outra história). Já com a energia é diferente. Você pode dizer tranquilamente que um corpo contém energia. Aí sim, não existe dependência alguma em relação ao outro corpo. Pegue uma tabela nutricional, por exemplo, e você verá o valor energético do que você vai ingerir.

Dê uma olhada ao seu redor e perceba o quanto a mídia, com suas notícias e propagandas, pode colaborar (ou não) para a Educação.

Beijo