terça-feira, 28 de setembro de 2010

"Seu Fred" - O eletricista - parte II


Veja minhas habilidades manuais

Tirar o chuveiro foi mais fácil do que pensei - crianças, quando forem fazer isso não se esqueçam de desligar o disjuntor (que serve para proteger o circuito da sua casa... depois eu explico melhor)! O problema foi na hora de abrir o negócio (o chuveiro, no caso). As ferramentas disponíveis eram rudimentares, quase me senti na Idade da Pedra Lascada. Com a sutilieza de quem tenta abrir um coco com a cabeça, tentei, em vão, desencaixar a parte de baixo do chuveiro pra acessar o famigerado resistor, que estava mais resistente do que nunca.


Nessa hora, precisei de uma assessoria. Nada que um cunhado computeiro metido a "prof. Pardal" pudesse fornecer:


CUnhado é pra essas coisas...
"Lú, já trocou resistor de chuveiro?"

"Claro"

"Pois é, tô trocando um agora. Ou melhor, tentando trocar. O bagulho fica em cima ou embaixo?"


"Embaixo. Tem que tirar a parte por onde sai a água. Espero que você esteja fazendo isso com o chuveiro no seu colo."

"Sim, sim. Mas o negócio não abre."


"É difícil mesmo. Depois que você abrir, vai ter uma outra tampa. Nessa tampa vai ter um fio encaixado. Retire essa tampa pra acessar o resistor. Aí é só desconectar o resistor dos terminais, encaixar o novo e pronto!"

"Tá. Valeu, Lú"

O problema é que começou a escurecer. Consegui abrir o chuveiro. Acessei o resistor, que continuou resistindo, não saía nem a pau. "Meu reino por um alicate", pensei. "Quer saber? Vou deixar o chuveiro aberto aqui e continuo o serviço amanhã. Um banhinho frio não vai fazer mal à mamãe."


Também sou do bando de loucos
Dia seguinte, a mãe já tinha comprado um chuveiro novo e, é claro, não tinha curtido muito o serviço pela metade. Instalei o chuveiro - com o disjuntor desligado! - deixei passar um pouco de água até ligar a energia, como manda o figurino. E todos foram felizes para sempre... Principalmente meus queridos alunos, que acabaram ganhando um chuveirinho pra estudarem resistores, corrente elétrica, tensão, potência...

Valeu, mãe!

Beijo

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"Seu Fred" - O eletricista - parte I

Por telefone:

"Filho, você pode dar um jeito no chuveiro lá de casa?"

"O que aconteceu, mãe?"

"Acho que a resistência queimou. Precisa trocar."


Resistor de chuveiro do tipo "Lorenzetti"

Resistor de chuveiro do tipo "Corona"

"Mãe, você sabe que eu não sou muito bom nessas coisas. Além de ter preguiça até de trocar lâmpadas. Mas tudo bem, vou tentar dar um jeito."

"Brigada, filho!"

"De nada, mãe. Mas, à propósito, o certo é 'trocar o resistor', não a 'resistência'. Resistência [medida em Ohms, homenagem a Georde Ohm] é o nome da grandeza física relacionada à dificuldade oferecida pelos dispositivos elétricos à passagem da corrente elétrica. Se eu trocar a resistência do seu chuveiro, vou alterar a corrente que passa por ele e, consequentemente, a potência dissipada. Você pode não gostar do resultado, pois a água não vai esquentar do mesmo jeito e..."

"Chega, filho, já entendi. Você vai poder fazer esse favor pra mamãe?"

"Tea with me, ma! Ou in portuguese: 'chá comigo, mãe!'"


Como tudo começou...

Continua...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Orientação vocacional

Em algum lugar do espaço-tempo, perto dali, no meio de uma aula de correção e discussão da prova bimestral:

"Fred, como você ia na escola? Você ficava de recuperação?" (perguntaram-me alguns desses seres, que habitam a foto a seguir, o que desencadeou uma longa conversa sobre profissão e vocação)

Você confiaria o mundo nas mãos desses caras?

"Não, nunca fiquei. Minha única nota vermelha no colégio foi em Religião. Fiquei com 3,0 de média porque não quis fazer um trabalho da professora Neusa (que Deus a tenha!). Mas uma vez, já na faculdade, tirei zero numa prova de Resistência dos Materiais"

"Caramba! Mas você não tinha estudado, ou fez tudo errado?"

"Fiz tudo errado [risos gerais]. E ainda teve uma vez que 'tomei pau' em uma matéria de quarta à tarde porque decidi ficar jogando Fifa (do PS1) com os meus amigos [mais risos gerais]"

"E seus amigos da faculdade? Teve algum que ficou rico, se deu muito bem?"

"O que é ser rico?"

"Ah, Fred, não venha com esse papo! Ser rico, ganhar bem, pô!"

"O que é ganhar bem?"

"Uns R$ 20 mil"

"Acho que ainda não. Mas devo ter muitos amigos da faculdade ganhando uns R$ 10 mil."

"E você?"

"Eu sou professor, né? [mais risos gerais] Em compensação, gosto muito do que faço"

"Você ganha bem?"

"Mais do que eu preciso, menos do que eu mereço" (adoro essa resposta!)

Conclusão?

Veja como sou um professor respeitado.

A Fisica não está só na Física. Ação e reação. Escolhas e consequências. Escolher é perder? E o resto? Dá pra voltar atrás? Assim é a nossa vida. Ganhar dinheiro ou fazer o que gosta? Fazer o que gosta, sem sombra de dúvidas. Se fizer bem feito, mais dia, menos dia, vai ganhar muito dinheiro. Não fazer o que gosta implica em... não fazer o que gosta. O que pode ser pior do que isso?

Beijo

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Astronomia e o Skank


Vou confessar: a minha banda nacional preferida é o Skank. Eu gosto muito das bandas independentes, mas, pra mim, o negócio tem que ser amplo, tem que atingir a grande mídia. Sei que é preciso vencê-los, que a grande mídia é controlada pelo capital e blá-blá-blá, contudo, nem tudo que atinge a grande mídia é porcaria. É possível fazer boa música, fazer boa Educação, fazer bons filmes sem se "render totalmente às tendências do mercado". Tudo isso só pra eu falar que gosto do Skank... nossa como eu sou complicado... não é à toa que sou professor de Física...

Enfim, o disco mais legal do Skank se chama "Cosmotron". Na minha modesta opinião, é o que tem os melhores arranjos, é o mais roqueiro, o mais "beatleniano" e o que possui as maiores relações com a Física. Como assim? Skank e Astronomia? É, eu viajo.

Na minha "viagem" (e todo ouvinte, leitor, telespectador tem direito a isso, a ser um co-autor) as letras, as melodias e os arranjos são bem "espaciais". Isso sem falar no nome do disco: COSMO(tron). A primeira faixa se chama "Supernova". Sabe o que é uma supernova? Curto e grosso? É uma estrela explodindo bastante e emitindo muita radiação, muita luz, muita energia. Veja o refrão:

"No universo das paixões
Amor assim é supernova
Certeiro na veia, da carne
Da alma, na carne d'alma"

Aqui os autores (Samuel Rosa e Fausto Fawcett) fazem um paralelo entre a "intensidade" da supernova e do amor que estão vivendo. Me senti o professor de Português agora!

Já na segunda faixa, "As noites":

"E lá no céu constelações
Num arranjo inusitado
O seu nome desenhado
Pelo menos tinha essa ilusão"

Esse negócio de ver formas nas constelações é muito antigo, começou com os Incas e influencia a nossa cultura até hoje. Os nomes dos signos do Zodíaco vêm daí, dos nomes das constelações, na verdade. Tudo bem que aí já começa a Astrologia...

Sem contar o maior hit do disco, "Dois Rios", que tem uma mãozinha do Lô Borges:

"O céu está no chão
O céu não cai do alto
É o claro é a escuridão"

"O Sol se põe e vai
E após se pôr
O Sol renasce no Japão"

Pois é, não fossem os avanços da Ciência, da Física e da Astronomia, teríamos tudo pra continuar pensando como Ptolomeu, que achava que tudo girava em torno da Terra. Afinal, tomando a Terra como referencial, vendo tudo daqui a olho nú, temos exatamente essa impressão. Depois vieram Copérnico, Kepler, Newton e outros caras que provaram que as coisas não eram bem assim. Mas já são cenas do próximo capítulo da Física na sua vida, baby.

Beijo

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Salsicha frita no laboratório?! Seus "pobremas" acabaram!

Se você ligar agora ainda leva um mês de Efeito Joule inteiramente "de grátis"!

Confesso que a aula de hoje me fez sentir dentro de um desses comerciais dos "1406" da vida, daqueles produtos que eu chamo de "inutilidades úteis" (ou seriam "utilidades inúteis?)!

Meus queridos alunos montaram - nada mais, nada menos - do que um "assador de salsichas elétrico"! De quebra a geringonça ainda prova que a salsicha é condutora de corrente elétrica e a existência do efeito térmico da eletricidade, o famoso "efeito Joule". Existe uma lenda científico-urbana antiga, que dizia que somente a matéria orgânica seria capaz de coduzir a corrente elétrica. Tudo isso porque um cara que dissecava uma rã, nos idos do século XVIII, viu ela mexer a pata depois de morta. Depois disso, todo mundo que tentou montar uma pilha usava um bife! Dá pra acreditar?! Só depois com Alessandro Volta e James "Cervejeiro" Joule as coisas mudaram...




















Perto dali, outros "anjinhos" quase botaram fogo no laboratório (e no cabelo da Jéssica) girando uma esponja de aço incandescente! Ah, o que duas pilhas, dois pedaços de fios e nenhum juízo podem fazer, né?

Fernando, foi mal, cortei sua cabeça, mas tudo bem, porque a experiência do circuito série/paralelo/interruptores foi a maior "miguelagem". "Meu avô usa em casa, Fred", me disse o Nheta (vulgo Bruno... a origem do apelido é melhor não contar nesse horário), quando negou-se a me presentear com o resultado de seu experimento. Tudo bem, filho, o importante é o aprendizado...

Efeito magnético da corrente elétrica? "Uso pó de 'pirlimpimpim' ou pó de ferro?", perguntou Gabriela a Vinícius. Aula de Fìsica no laboratório é a maior viagem...

Até a próxima,

beijo.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

AC/DC no Rock in Rio 2011

Confirmado: a maior atração do Rock in Rio 7 (no Rio!) em 2011 será o AC/DC! Rock in Rio no Rio parece um pleonasmo, né? O pior é que não é! Das sete edições do Rock in Rio, duas aconteceram em Lisboa e uma na Espanha. Só mesmo em Portugal pros caras chamarem de Rock in Rio um evento que acontece em Lisboa... vá entender... Fato é que faz dez anos que o evento não acontece no Brasil.

E o que a Física tem a ver com isso? Física e Rock? Tudo a ver! Não fosse o eltromagnetismo das bobinas e ímãs, nada de guitarras elétricas e nada de auto-falantes, logo, nada de Rock'n Roll, baby.

Só que o lance não é discutir o Rock. Por enquanto seremos menos abrangentes, a discussão vai ficar só na banda australiana formada em 73 pelos irmãos Angus e Malcom Young = AC/DC.

O primeiro álbum dos caras foi lançado em 75, com o sugestivo nome de High Voltage.

E em algum lugar no espaço-tempo, perto dali, estávamos em uma aula de Física falando justamente disso: AC/DC, ou seja, AC - alternating current e DC - direct current (in english).

As baterias e pilhas são fontes de corrente elétrica contínua (CC, em português), enquanto que as nossas tomadas são fontes de corrente elétrica alternada (CA).

É claro que lá estava o Trovão Azul, onde vimos o dínamo, que transforma energia mecânica em elétrica e a bateria, que armazena essa energia (na forma de energia química) pra ser usada nas partes elétricas do carro. Sem o dínamo a bateria se descarregaria em cerca de uma hora. Já pensou ficar trocando a bateria do carro toda hora?


Longa vida ao Rock'n Roll e aos dínamos!

Beijo

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Pai nosso que estais na Física...

Numa aula dessas de Eletrodinâmica, rezávamos pra ver se conseguíamos produzir alguma diferença de potencial elétrico...
Além disso, brincamos de fazer pilhas de moedas. "Me dê aquela pilha de volta!". Trocadalhos do carilho!
Chega, tá ficando muito psicodélico! Mas que nesse dia montamos a pilha de Volta (Alessandro Volta, aquele que deu nome aos Volts), isso montamos. Nada mais do que algumas moedinhas de cinco centavos (liga de cobre) e cinquenta centavos (liga de níquel), um pouco de solução de vinagre (pra fazer às vezes de solução ácida) e papel higiênico (pra limpar a sujeira que fizemos, digo, pra ficar embebida na solução entre as moedas).
Ocorre que por falta de mais moedas, chegamos a alguns parcos milivolts de ddp. Daí aproveitamos a secura do dia e começamos a medir a tensão elétrica entre nós mesmos. Quando nos demos conta, estávamos todos de mãos dadas em nome da Física, quem diria...
Falando em Volts, lembrei da banda de uns amigos meus, os Voltz, lá de Sanja:
www.myspace.com/voltzonline



Beijo

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Fafá de Belém e a Termodinâmica

Alguém aí é do tempo da Fafá de Belém?

Trata-se de uma cantora da MPB que fez muito sucesso nos anos 80, cujas marcas registradas eram a voz aguda rasgada e um par de seios avantajados, o que a torna muito adequada para trabalharmos conceitos físicos que dependem de uma reação de combustão (com "bustão"... rs!).


Estávamos no meio de uma aula de Física no Fusca ao lado do velho Trovão Azul, quando de repente aparece o Seu Amadeu (ajudante geral e "faz tudo" da escola), que diz:

"Esse fusca já é o Fafá, né?" (nome popular das lanternas traseiras grandes - lembra do bustão? - do Fusca a partir de 79)

"É, Seu Amadeu", respondi.

"O quê?!", foi a leitura que fiz das expressões de meus jovens alunos.

"Agora o senhor vai ter que explicar quem foi Fafá de Belém", pedi para o Seu Amadeu, que, sem a menor cerimônia, falou para os meninos dos atributos físicos da cantora.

Depois disso, discutimos sobre o funcionamento do motor do fusquinha, sobre os cilindros opostos, sobre o trabalho em uma transformação gasosa, sobre a transformação de energia térmica em movimento (maravilha!), sobre as leis da Termodinâmica, sobre as variáveis de estado, sobre o fato das rodas traseiras empurrarem o chão pra trás e o chão empurrar o fusquinha pra frente e por aí vai.

Inclusive, neste momento, tive que contar um segredo para os alunos: o Trovão Azul é tão forte que não é a Terra que o empurra pra frente, é ele que empurra a Terra pra trás! E dá-lhe conservação da quantidade de movimento!

Enquanto isso, Seu Amadeu ficou lá, participando da aula. No final, ainda quis comprar o Trovão Azul.

Eu disse, não. Esse não está à venda, Seu Amadeu.

Beijo

P.S. Francisco, taí o que você queria, garoto! Veja você aí na foto!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Por onde anda a velha Mércia?









A bordo da Apolo 11, um astronauta diz para Houston:

"Desligamos os foguetes, Isaac Newton nos dirige agora!"

Que beleza! Enquanto isso, numa aula de Física perto dali (em algum lugar do espaço-tempo), o professor puxa uma folha de papel enquanto uma garrafa d'água permanece ilesa, inerte.

300 anos se passaram e as coisas teimam em manter o seu estado de movimento quando a resultante das forças é nula! Ou não?!

É assim com o meu Fusquinha (o Trovão Azul). Parado na garagem, ou a 98,9 km/h em linha reta é a mesma coisa: equilíbrio! Então quer dizer que tanto faz ele estar parado ou em MRU? Pois é.

Vou parar por aqui pra instalar o meu recém adquirido Nintendo Wii (olha o merchan!). Um professor de Física também precisa se divertir, ora pois! Isso sem contar que ainda vou usar muito esse tal de Wii nas minhas aulas por aí... mas essa já outra história...

E você aí? Saia dessa inércia, rapaz!